terça-feira, 30 de abril de 2019

Temas ABAU

1. A língua portuguesa no Brasil:

Após a descoberta ou "achamento"do Brasil no ano 1500 os portugueses começam a chegar maciçamente a este território, e com eles a língua portuguesa. Esta entrou em contato e foi suplantando as línguas indígenas, e ao tempo foi influenciada por elas; a mais importante destas línguas era o trupinambá ou tupi-guarani, falado polos povos índios que habitavam no litoral. Inicialmente o tupinambá foi utilizado como língua geral da colónia, por ser a que os padres jesuítas utilizaram para catequizar os índios até que, na metade do século XVIII (1757), foi proibida a sua utilização e o português, na altura já muito estendido, foi convertido em língua oficial.

Esse português, modificado e influenciado nos níveis fonético e léxico polas línguas indígenas, seria ainda alterado pelas diversas falas e dialetos dos escravos africanos que foram trazidos pelos portugueses para trabalhar no Brasil. Ao tempo, em Portugal o português recebia a influência do francês, que era língua de prestigio e cultura na altura, pelo que as diferenças entre as duas variantes foram incrementando-se. Embora o traslado para o Brasil da família real portuguesa durante a ocupação napoleónica a começos do século XIX (1808 a 1921) supusesse uma certa reaproximação das duas variantes, as divergências entre ambas seriam já irreversíveis.

Quanto às diferenças internas no português do Brasil, para além dos fatores já referidos deve ter-se em conta também a influência de espanhóis, holandeses e outros povos europeus que ocorreu após a independência do Brasil (1822); isto explica as diferenças de pronúncia e vocabulário existente entre algumas regiões do país.

A literatura, especialmente a partir do Romantismo (século XIX) e durante o Modernismo (século XX), ligada à consciência nacionalista dos autores que procuravam o afastamento da antiga metrópole, contribuiu à criação de um modelo de língua próprio e diferenciado do padrão português, graças à utilização e posta em valor de traços linguísticos próprios e originais.

Embora exista desde o ano 2009 o acordo ortográfico, que pretende unificar as divergências na escrita da língua portuguesa, o português do Brasil apresenta caraterísticas próprias que atingem aos planos fonético (pronúncia mais aberta das vogais átonas, realização africada /CH/ do T antes de E ou I), morfossintaxe (colocação do pronome átono antes do verbo, uso de estar + gerúndio) ou vocabulário (trem, marrom, suco).

2. A língua portuguesa e a Galiza:

O português origina-se a partir da fragmentação da antiga língua galego-portuguesa ou, segundo a denominação de Carvalho Calero, romance ibérico ocidental. Esta língua tem o seu período de esplendor entre os séculos XIII e XIV, e o seu máximo exponente é o corpus de poesia lírica medieval (as cantigas); nesta fase as diferenças entre as falas a norte e sul do Minho seriam mínimas, e a amostras escritas que conservamos nos cancioneiros apresentam um modelo gráfico coerente e comum a autores originários quer da zona galega quer da portuguesa.

Esta unidade quebrar-se-á com a independência do condado Portucalense e a conversão do mesmo no reino de Portugal sob o comando de Afonso Henriques. Este feito, ligado à integração do antigo reino da Galiza na coroa de Castela, fará com que as variantes do galego-português faladas nos dois lados do Minho comecem a acentuar-se: a sul, o português converte-se em língua oficial, substituindo o latim, unificando a sua ortografia e entrando na Idade Moderna como língua de pleno direito; a norte, o galego é suplantado pelo castelhano nos usos formais e escritos, começa a ser influenciado por este nos diversos planos (léxico, morfológico) e fica reduzido a uma série de variantes dialetais (falas) sem chegar a perder por isso a sua unidade e entidade como língua diferenciada do castelhano.

As diferenças incrementar-se-ão nos séculos seguintes: o português projeta-se pelo mundo com as descobertas, recebe influências de línguas americanas, africanas, asiáticas e ainda europeias como o francês ou mais modernamente o inglês, atualiza o seu léxico ao ritmo dos avanços científicos e culturais e origina uma literatura rica e original. No entanto, o galego entra nos Séculos Obscuros que supõem o seu silenciamento como língua literária e de cultura, o escasso contato entre falantes de diferentes zonas faz com que incrementa a sua variação dialetal, o léxico estanca-se e a redução a âmbitos de uso rurais e familiares, e o castelhano aumenta a sua influência ao passar das camadas dirigentes autóctones às camadas médias da sociedade, assim como ao estrato eclesiástico.

No século XVIII a situação de degradação do galego era tal que, para boa parte da população não passava de ser uma variante incorreta do castelhano, falada apenas por pessoas ignorantes; serão os Ilustrados padres Feijóo e Sarmiento quem, com critérios históricos e filológicos, constatem a vinculação entre galego e português. Já no século XIX as principais figuras do Ressurgimento, como Murguía, Curros ou Pondal farão chamados à necessária aproximação entre as duas variantes; esta tendência continua durante o século XX com Risco, Castelao ou Vicente Viqueira, convivendo autores e estudiosos que defendem as peculiaridades do galego e uma ortografia coincidente com o castelhano com outros que optam pela unificação ortográfica de galego e português.

Quando, após a morte do general Franco, o galego se converte em língua cooficial na Galiza, a instituição responsável pela sua fixação normativa (RAG) escolhe e oficializa a variante chamada auto-identificada ou isolacionista, que prima a tradição escrita castelhanizada do galego e os traços linguísticos diferenciadores do português. Contudo, existem autores e organizações (Associação Galega da Língua, Academia Galega da Língua Portuguesa) que defendem a confluência normativa e a visão extensa e internacional da língua galega, reintegrada no tronco linguístico galego-português originário.

3. Aspetos da sociedade e/ou cultura de países de língua portuguesa

O português é língua oficial em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Os portugueses chegaram a África no século XIV, durante a época das grandes navegações na procura do caminho para a Índia. As ilhas Canárias foram ocupadas no início desse século, e já no XV seguem-se a cidade de Ceuta, as ilhas de Cabo Verde e no litoral oeste do continente criam-se diversas feitorias -pontos de comércio de matérias primas e escravos com os habitantes nativos-. A colonização da costa oriental ocorre após a passagen do Cabo da Boa Esperança por parte de Bartolomeu Dias. Estes territórios mantiveram uma relação de dependência colonial com Portugal até a revolução de 25 de abril de 1974 que pôs fim à ditadura.

O português falado na África coexiste com diversas línguas e dialetos nativos, e por não ter substituído àqueles, possui alguns traços próprios mas mantem-se em geral bastante semelhante ao de Portugal. A influência mais forte manifesta-se no vocabulário e na aparição de crioulos, que são as línguas nacionais produto da combinação do português com as línguas nativas, especialmente importantes em Cabo Verde e Guiné-Bissãu.

Angola: a sua capital é Luanda, e tem aproximadamente 31 milhões de habitantes. A dança tem grande importância na cultura do país, e tem exportado a Europa ritmos como a kizomba e o kuduro.

Cabo Verde: é um arquipélago de dez ilhas vulcânicas no oceano Atlântico, a sua capital é Praia e tem aproximadamente 560.000 habitantes. A música é a manifestação cultural mais importante, com géneros como a morna ou o funaná; a cantora Cesária Évora é conhecida mundialmente.

Guiné-Bissau: é um país na costa atlântica de África, com uma população de 1,6 milhões de pessoas e cuja capital é Bissau. A dança e a música são as principais manifestações artísticas e o gumbá o género mais característico; o instrumento musical representativo do país é o afoxé.

Moçambique: está na costa do oceano Índico, fernte à ilha de Madagáscar. A sua capital é Maputo e tem uns 28 milhões de habitantes. A música é semelhante ao reggae ou ao calipso, e utiliza instrumentos como marimba -espécie de xilofone-. O sentido religioso da música manifesta-se no uso de máscaras de madeira.

São Tomé e Príncipe: é um conjunto de duas ilhas no golfo da Guiné, a capital é São Tomé e tem por volta de 200.000 habitantes. No seu folclore destacam duas peças teatrais -autos- de origem renacentista e português, que se conservam e representam até hoje.

 

4. A Galiza e a Lusofonia/ o mundo da língua portuguesa

A Galiza compartilha uma história rica e uma ligação profunda com o mundo da língua portuguesa: a Galiza e Portugal mantêm uma proximidade lingüística que remonta a séculos atrás. O galego-português, antigo idioma falado na região, é um elo que une essas terras. A evolução natural do latim vulgar na Gallaecia (atual Galiza e norte de Portugal) deu origem a essa língua, que posteriormente se diversificou em duas normas: a portuguesa e a galega. Essa conexão transcende fronteiras geográficas, e os diálogos culturais persistem.

No cenário mais amplo, a Galiza não está isolada. Insere-se em um espaço linguístico-cultural de expressão portuguesa que abrange países além das fronteiras ibéricas. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), composta por nações como Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Portugal e outras, compartilha a língua portuguesa como um patrimônio comum. A Espanha faz parte dessa comunidade como estado observador desde 2021. Essa rede de países promove a cooperação, a troca cultural e o desenvolvimento mútuo. A Galiza, ao reconhecer a sua afinidade com aqueles países, contribui para fortalecer os laços culturais e lingüísticos que vão além das fronteiras e enriquecem a diversidade lusófona.

Por outra parte, e no plano económico, as relações da Galiza com os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) são na atualidade de grande importância, nomeadamente no que diz respeito a sectores como a pesca ou a minaria. Igualmente o Brasil tem sido tradicionalmente destino da emigração galega, criando laços económicos e culturais. No espaço europeu, a Galiza e o norte de Portugal conforma uma eurorregião com quase 6,5 milhões de habitantes que partilha projetos e estratégias comuns.

Em suma, a Galiza, com sua língua e cultura, é um elo vital no tecido da lusofonia global, conectando-se tanto com Portugal quanto com os países de língua oficial portuguesa em todo o mundo.

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